O que você faria se tivesse que recomeçar sua vida do zero?
Forçada a recomeçar, Dennys foi forçada a fugir do seu país e encontrou no Brasil apoio para reconstruir sua história
Dennys nunca imaginou que um dia teria que deixar seu país. Nascida na Venezuela, ela vivia entre as dificuldades diárias de sustentar sua família e as alegrias simples ao lado de sua mãe e suas filhas gêmeas, que nasceram com paralisia leve.
Mas sua vida mudou completamente quando, aos 26 anos, foi diagnosticada com câncer de colo de útero. A doença trouxe não apenas o desafio de lutar pela própria vida, mas também expôs as enormes falhas do sistema de saúde em meio à crise que devastava a Venezuela.

Sem acesso a medicamentos, equipamentos básicos ou até mesmo itens de higiene como sabão, Dennys enfrentava dificuldades extremas. Com uma bolsa de colostomia como resultado de uma cirurgia de emergência, ela dependia da solidariedade dos vizinhos para conseguir lençóis, já que as prateleiras das farmácias estavam vazias.
Sua saúde se deteriorava rapidamente e, sem tratamento adequado, ela sabia que suas chances de sobreviver eram mínimas. Foi nesse contexto desesperador que sua mãe sugeriu algo impensável: fugir para o Brasil.
Com apenas as roupas do corpo, uma mochila e os papéis que comprovavam sua condição de saúde, Dennys partiu de sua cidade natal com a mãe e as filhas em janeiro de 2019.
O destino era incerto, mas a esperança de encontrar ajuda em terras brasileiras era maior do que o medo do desconhecido.

Ao chegar em Pacaraima, na fronteira do Estado de Roraima com a Venezuela, ela foi acolhida pela ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, que priorizou seu caso devido à gravidade de sua saúde. Pela primeira vez em muito tempo, Dennys sentiu-se protegida.
Ela e sua família foram encaminhadas para o abrigo Nova Canaã, onde permaneceram por quase dois anos. A adaptação não foi fácil. Após anos sem trabalhar e com sua saúde ainda debilitada, Dennys não acreditava que seria capaz de recomeçar.
Foi então que Dennys conheceu o programa Empoderando Refugiadas, voltado para a capacitação profissional e a integração no mercado de trabalho. Apesar das inseguranças e do medo de falhar, ela aceitou o desafio. Quando foi selecionada para o processo de interiorização e transferida para São Paulo, sua vida começou a mudar.
Em São Paulo, Dennys conseguiu um emprego no Shopping Iguatemi, que acolheu suas necessidades especiais e proporcionou a estabilidade que ela tanto buscava.
“O que eu não recebi no meu país, recebi aqui: oportunidades, dignidade e respeito. Trabalhar me trouxe de volta a força de viver e cuidar das minhas filhas”, conta emocionada.
Suas filhas, agora com 19 anos, também participam do programa, criando um futuro melhor para a família.
Hoje, Dennys vive com mais estabilidade, carregando consigo não apenas as cicatrizes do que enfrentou, mas também a certeza de que sua determinação e a solidariedade que encontrou pelo caminho transformaram sua história.
“Eu tenho uma identidade, tenho direitos, e isso é o mínimo que qualquer ser humano merece”, reflete.
Para ela, o Brasil se tornou mais do que um refúgio – tornou-se um lar onde recomeçar foi possível.
Ao ouvir a história de Dennys, somos convidados a refletir sobre o papel que podemos desempenhar. Acolher, apoiar e estender a mão são gestos que transformam vidas e constroem pontes de empatia em um mundo onde ninguém deveria ser forçado a fugir.
Esta é a última história da série em parceria com a ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, onde trazemos histórias de quem vive em situação de refúgio.
Não se trata apenas de números ou estatísticas, mas de pessoas reais que encontram força em meio às adversidades.
Assista agora o depoimento da Dennys: